terça-feira, 18 de outubro de 2011

Minha mãe foi atropelada.

Agora imaginem o choque de uma filha ao ouvir esta frase?
Pois é. Gelei, gelei, gelei e só o que eu pude pensar, depois de me assegurar que ela estava bem, foi: eu odeio o trânsito no Brasil.

Minha mãe é jovem (vejam a foto dela aqui), super descolada e antenada e mesmo assim ela foi atropelada. Por muita sorte não aconteceu nada de mais grave. Ela gritou quando viu que o carro não ia frear e assim o motorista parou. Caso contrário ela teria possivelmente voado pra longe. Assim, ficou "só" com o corpo dolorido e algumas manchas roxas.
O motorista, em vez de acudir minha mãe, começou a gritar com ela. Dizendo que o sinal estava verde pra ele e pronto (sinal verde pra pedestre ou não existe ou não conta, né?). Outros pedestres que estavam por perto cercaram o carro, o motorista se sentiu intimidado e, vendo minha mãe chorar e sentindo o seu nervosismo, enfim se solidarizou e ofereceu para levá-la ao hospital. Minha mãe só queria ir para casa, se recompor e acalmar e recusou, disse que estava tudo bem. Nem pensou na hipótese de chamar a polícia e ficou feliz e sensibilizada com as inúmeras pessoas, desconhecidas, que estavam na rua e que se ofereceram para ajudar.
 
Mas a minha indignação não passou como o passou o susto da minha mãe. Eu fico ainda me remoendo e pensando: e se ela não tivesse gritado? E se tivesse sido o meu pai (que é, provavelmente, a pessoa mais distraída da face da terra e que não teria gritado)? E se tivesse sido minha cunhada com minha sobrinha pequena, que também moram perto desta mesma avenida onde o atropelamento aconteceu?

E se tivesse sido minha filha ou a sua?

Claro que acidentes acontecem. Acontecem aqui, no Brasil e na China também. Mas no Brasil eles acontecem em um número muito maior. E acontecem apesar das leis que deveriam em primeiro lugar proteger o elo mais frágil da corrente do trânsito: o pedestre.

E até quando vai ser assim, hein? Até quando nossas leis vão precisar "pegar" como se fosse motor velho que têm que pegar no tranco? Até quando os motoristas do Brasil vão achar que estão acima da lei?
Até quando os motoristas vão achar que podem tudo, só porque estão dentro de um veículo? Até quando eles vão se esquecer que quando descem do carro também são pedestres? Até quando teremos que atravessar ruas correndo, feito desvairados, temendo literalmente pelas nossas vidas?

Acho muito engraçado quando recebo visitas aqui na Alemanha. Frequentemente elas ficam testando se os carros vão realmente parar na faixa de pedestres e se deleitam quando veem que sim, que isso "funciona" aqui. Incrível não? Até a Mercesdes freou! Olha o Audi também está freando! Existe uma regra aqui que diz que o carro deve parar quando um pedestre quer atravessar na faixa de pedestres. E, oh!, os alemães param! E os pedestres atravessam em segurança, simples assim.

Agora porque isso não funciona no Brasil? O motorista brasileiro por acaso tem mais pressa que o alemão? Ele tem mais compromissos? Porque no exterior o brasileiro se encanta com a "civilização" e quando volta ao seu país acha que está no velho oeste? Porque ninguém exige que se cumpra algo que serve à segurança de todos?

Até quando vamos nos deparar com imagens como estas:


Ou com títulos de reportagens como este:

Atropelamento de casal prejudica trânsito na avenida Brasil

(Caramba, atrapalhando o trânsito! Como este casal ousa ser atropelado bem na Avenida Brasil? Eles não sabem que assim atrapalhariam o trânsito do Rio de Janeiro? E o menino ainda foi morrer, para piorar a situação e atrapalhar ainda mais.)

Até quando vamos ter notícias do gênero: Brasil é o quinto colocado no mundo em número de vítimas de acidentes de trânsito? E números como estes: 37 mil mortes no trânsito por ano no país.

Eu sou mãe e filha e não quero que ninguém da minha família entre para estas estatísticas horrorosas. Nem meus amigos, nem conhecidos, nem inimigos.

Quero um trânsito mais seguro e respeito às leis. Quero que minhas filhas nunca tenham que perguntar pra que servem estas linhas brancas no chão e tenham que responder (como uma amiga minha no Brasil teve que dizer para seus filhos): elas servem para enfeitar a rua.


Chega de acidentes!


6 comentários:

Alessandra disse...

Imagino que morar fora do Brasil às vezes dá vontade de chorar, principalmente de saudades...
Mas morar no Brasil dá muitas vezes vontade de chorar... de indignação, frustração, vergonha...

Camilla Brandel disse...

100% de apoio ao seu texto. Tem horas, muitas horas, principalmente em horas como essa, que a única coisa que eu penso é: como posso convencer meus pais a sair do Brasil e vir morar aqui comigo?
Quando a Maria estava aqui, um dia estávamos passeando a pé. Eu, ela, o Nathan e o Valdilho. Uma hora o Nathan tava enrolando, brincando com alguma coisa, enquanto ela continuou andando e ficou parada na esquina esperando a gente. Até que ela falou: "Camilla, vou ter que sair daqui, porque todo carro que passa fica parando achando que eu quero atravessar a rua."
E é assim mesmo que tem que ser!!

Sandra disse...

Sinto muito pela sua mãe, ainda bem que só foi um grande susto!
Mas solidarizo com vc, aqui no Brasil, o trânsito está um caos.
Respeito, Leis, o que é isso mesmo?!
Infelizmente....
Hoje pela manhã escutei uma entrevista com um adolescente (boy, filhinho de papai) que falo que bebe mesmo e dirige que deve aproveitar a vida e se acontecer alguma coisa e´só pagar a fiança que tudo está certo!
Um verdadeiro absurdo!
Beijos e estimo melhoras pra sua mãe!

Kathe disse...

Prometo que de agora em diante só vou te ligar para contar coisas boas, se bem que hoje também tive que dar uma noticia chatinha. Mas agora vai: convencí o Pai a fazer caminhadas leves pela manhã!! Até já coloquei o despertador !!
bjs.

Karen disse...

Pois é, ficaria beeeeem mais feliz se o pai e a mae morasse aí, Lica. Ou aqui, claro! Tem horas que dá uma revolta tao grande... Como pode um país nao funcionar desta maneira? Nao dá pra entender..

Sandra, foi só um susto mesmo. Um grande susto. Mas me entristece saber que nem todos têm a mesma sorte. E que nao precisaria ser assim, sabe? E que absurdo a conversa do playboy!!! Nao dá vontade de chacoalhar uma pessoa assim??

Simone Scalabrini disse...

Nossa, que susto! Graças a Deus não foi nada tão sério, mas eu concordo em gênero, número e grau com suas indignações. Aqui mesmo depois do sinal verde de pedestre acender temos que tomar coragem pra atravessar a rua. Por isso sempre que posso evito sair com a Sofia andando pelas ruas a fora.

Bjs!!!