Errar é humano,
Persistir no erro é burrice.
Dito isso: tudo começou quando eu estava procurando um bolo gostoso, bonito e fácil para servir no aniversário da Sophia. Desde sua primeira festinha os bolos dela são sempre feitos por mim e achei que este ano não poderia ser diferente. No primeiro bolo usei papel de arroz, no segundo pasta americana (tá, confesso que no terceiro não fui eu quem fez o bolo, mas eu estava no Brasil e resolvi terceirizar hehehehe) e este ano não queria ter tanto trabalho tingindo pasta americana (que dá um trabalhão danado, apesar de ficar lindo!) ou fazendo glacê.
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Bolo do primeiro aniversário |
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Bolo do segundo aniversário |
Então, como o tema era Halloween, resolvi procurar em sites americanos um bolo com a seguinte característica - fácil, rápido e gostoso. Não demorei a achar um bolo que me inspirou, ele tinha cara de teia de aranha, não precisava nem ir ao forno, todos elogiavam dizendo que era uma delícia e ficava pronto em míseros 20 minutos!
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Claro que não esperava tamanha perfeição, mas... Fonte: http://www.marthastewart.com/275112/halloween-cakes-and-dessert-recipes/@center/276965/halloween#/258987 |
Feliz da vida, não pensei mais no assunto até uns dias antes do aniversário da Sophia. Achei por bem dar uma nova lida nos ingredientes, rever os comentários das pessoas que já o tinham preparado e, por via das dúvidas, fazer um bolo-teste. Como ela queria levar um bolo pra escolinha, para comemorar com os amiguinhos, achei que seria uma ocasião perfeita para testar o dito cujo.
Daí começaram meus primeiros dilemas.
1) a receita pedia waffles de chocolate e
2) um tal de heavy cream - que achei que era uma nata qualquer (e aqui na Alemanha tem muuuuuuitas opções com diversos teores de gordura).
Como não encontrei waffles de chocolate, resolvi seguir uma sugestão que li em um blog dizendo que eu poderia usar os biscoitos oreo (parece o negresco do Brasil) e então ou tirar o recheio ou usar o recheio, mas com menos manteiga. Resolvi seguir a segunda opção, mas tirei o recheio de uma por uma, para saber quanto de biscoito puro eu estava usando para reduzir a manteiga de acordo.
O heavy cream eu resolvi substituir por Creme Double, pois cheguei à conclusão que tinham o mesmo teor de gordura.
Ao fazer o bolo achei a consistência da massa, que iria cobrir o fundo do bolo e as laterais, meio molenga. Mas não me abalei, como a receita dizia que o bolo tinha que ficar na geladeira ou até no freezer achei que fosse assim mesmo, que iria endurecer na geladeira. O creme ficou delicioso. Como queria testar também a cobertura, derreti o chocolate e escrevi o nome da Sophia. A consistência do chocolate para escrever ficou simplesmente perfeita, coloquei tudo na geladeira e fui dormir feliz.
Na manhã seguinte coloquei o bolo numa embalagem especial para carregar tortas, o maridão saiu carregando com todo o cuidado e fiquei em casa já pensando que tinha escolhido uma boa receita apesar de não ter nem a bolacha nem a nata certas.
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Sou uma embalagem para carregar tortas |
Depois de umas duas horas ligo pro marido para saber como foi a reação na escolinha. Ele me diz:
- Ah, então. A torta caiu no chão.
- Tá, mas eles gostaram?
- Gostaram apesar de ela estar bem deformada.
- Peraí, você quer me dizer que o bolo caiu no chão?
- Sim.
- Mas caiu mesmo, você não está me enganando?
- Não, caiu tudo mesmo.
- Mas como assim?
- A porcaria da embalagem especial para carregar tortas abriu e metade da torta foi parar no chão.
(Isto era o primeiro aviso. Agora eu sei. O bolo estava enfeitiçado e não era para sair.)
No dia em questão a Sophia acabou ganhando um outro bolinho, comprado no supermercado, só para os amiguinhos poderem cantar parabéns e pronto. A parte que não caiu no chão o papai da Sophia levou pra escolinha. Todos comeram e disseram que estava uma delícia. Nem preciso dizer que ficamos frustradíssimos, né?
Então planejamos que em vez de utilizarmos as bolachas oreo que iríamos fazer uma massa normal de bolo de chocolate para o bolo ficar mais firme, já que eu não tinha gostado da consistência da massa de bolacha.
No dia anterior à festa marido fez a massa (e ele cozinha muito bem, já aviso para ninguém por a culpa no coitado hehehe), mas ela ficou esquisitíssima. Quebradiça e não aderente, não queria ficar grudada na forma de jeito nenhum. Colocamos no forno para assar assim mesmo e as laterais começaram a "escorregar" enquanto o fundo "subia" paralelamente, de modo que tudo estava ficando na mesma altura - o que implicava em não podermos rechar a torta.
Marido fica irritado e começa a fazer uma outra massa. Lê na internet que deveriamos colocar feijão em cima do fundo para que este não subisse e para que a lateral não descesse. Lembro de ter lido em algum lugar que se deve furar com um garfo muitas vezes antes de levar esta massa ao forno, para que o ocorrido não ocorresse novamente. Como não queriamos gastar nosso precioso feijão (pôxa, não é todo dia que tenho feijão carioquinha...) resolvemos usar a segunda ideia e furamos tudo com um garfo.
Não deu certo novamente.
(este com certeza era o segundo aviso)
Resolvi então fingir que o bolo de chocolate que deu errado era bolacha. Esfarelei o bolo, juntei com a manteiga como se fosse iniciar a receita novamente, utilizando as tais das bolachas de chocolate e pronto. Fiquei bem contente com a minha ideia, me senti muito sabida. Preparamos novamente o recheio de philadelphia (ah, falei que era um cream cheese?), recheamos a torta e estávamos um pouco menos irritados. Marido foi preparar o chocolate para desenhar a teia de aranha enquanto eu lavava um pouco de louça. Chocolate passou do ponto.
Muitos suspiros de raiva. Nova tentativa.
Talhou.
Fui desenhar a teia mesmo assim. Círculos saíram super tortos, mas saíram. No entanto, quando queria passar a faca para poder fazer o efeito de teia o chocolate ia saíndo junto com a faca.
(terceiro aviso)
Deveras irritados formos dormir, pois já eram 2 da madrugada. O bolo que era pra ficar pronto em 20 minutos nos consumiu mais de duas horas. E nem tinha ficado lindo.
No dia da festa deixamos o bolo na geladeira até a hora do parabéns, pelo sim, pelo não. Quando fui desenformar o bolo tinha certeza que ele ia desmontar. Mas não. Ficou firme e forte. Daí achei que ele fosse cair no chão no caminho entre a geladeira e a mesa. Mas não. Ele aguentou.
Cantamos parabéns, já estava quase fazendo as pazes com o dito cujo, quando chegou a hora de cortar o bolo.
E claro, não poderia ser diferente com um bolo enfeitiçado: ele estava molenga....
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Pra quem não se lembra, aqui está o bolo. |
Dizem que ele estava bom.
Só que eu fiquei realmente de mal dele e não provei. E nunca mais faço um bolo "simples", "rápido" ou "sem assar" para aniversário algum.