quarta-feira, 30 de maio de 2012

Brinco? Nem pensar! ou Educando filhos brasileiros na Alemanha

É engraçado que a primeira diferença que senti na hora de educar as nossas filhas bi-nacionais foi quando soubemos que uma menininha estava a caminho. Já comecei a imaginar todo um cenário cor de rosa, muito babado e frufru (tá, confesso, nem tanto, já que não sou uma pessoa muito cor-de-rosa, nem muito menos frufru) e já fui pensando em pedir para a vovó mandar um par de brincos para a netinha, como um que eu tinha quando era pequena e a-ma-va: um brinquinho de ouro com rubi (era mesmo mãe?), em forma de cerejinhas. Fui contar todo o meu cenário bucólico para o maridão e ouço um:

- Nem pensar! Não podemos colocar BURACOS na orelha da nossa filha!
- Como assim BURACOS? São apenas furos nas orelhas, como os meus.
- São BURACOS sim, e minha filha não vai ter as orelhas furadas só porque você quer. Já ouviu falar de livre arbítrio?
- Mas ela será uma menina! E meninas têm as orelhas furadas! Eu tenho, você acha que ela não vai querer ter?
- Mas nem minha mãe, nem minha irmã, têm as orelhas furadas. E você vai ter que me prometer que não vai fazer nada escondido de mim.

E eu prometi. 
E a Sophia ficou sem brincos nas orelhas. Tudo isso porque aqui na Alemanha, principalmente nas famílias mais tradicionais, ricas ou esnobes, sei lá, é considerado brega furar as orelhas. O que é muito estranho, já que aqui todo mundo tem as orelhas furadas, muitos homens também usam brincos, mas meninas têm que ficar com as orelhas intactas até mais ou menos a entrada para a escola. Ou melhor ainda até estarem na quinta série. Ou, glória das glórias, para sempre.

Com isso, passei muito tempo (já que Sophia era BEM carequinha) respondendo que não, meu bebê não é um menino. Não tá vendo que ela está de vestido e ainda por cima cor-de-rosa? Pois aqui também não é considerado de bom tom vestir muito cor-de-rosa nas meninas. Claro que eu muitas vezes usava e pronto. Afinal, porque os meninos podem usar tudo azul e as meninas não podem usar cor-de-rosa? É a tal emancipação feminina às avessas, eu diria. Na ânsia de não querer rotular e delegar papéis pré-determinados às meninas, os alemães acabam colocando tabus em assuntos de importância (na minha opinião) secundária, como brincos e cores. Espera-se de verdade que meninas filhas de pais com curso superior não usem muito rosa, nem tenham brincos. Quando encontrava com alemãs que viam minhas filhas vestidas de forma mais delicada, eu escutava muitas vezes uma justificativa da parte delas, um comentário do tipo: "ah, de vez em quando elas também podem usar rosa, né?". Como se fosse necessário que eu me justificasse perante as minhas escolhas femininas.

Outro ponto, bem mais importante, que me faz pensar é a fomentação da independência da criança. Aqui crianças devem ser independentes o mais rápido possível. Isso significa, por exemplo, que muitos pais esperam que as crianças durmam a noite toda, desde sempre. E acreditam piamente que estarão "estragando" a criança se "cederem" ao seu choro e lhe forem socorrer ao chorar. Então tem toda uma parafernália de livros, cursos e fóruns de discussão em que se "ensina" a criança a dormir a noite toda. Como? Deixando-as chorar, claro. 
Pegar muito no colo também é para os fracos. Normalmente, se uma criança cai, dá-se uma rápida olhadela para ver se não tem nenhum ferimento aparente e já se diz a criança que ela deve se levantar. Não tem muito consolo, nem muito mimo.
E, para mim, o cúmulo do fomento da independência é esperar que a criança saia de casa aos 18 anos. Sim, com 18 espera-se que o filho vá estudar em algum lugar e que depois comece a trabalhar e os pais (claro que inicialmente ajudando financeiramente) dão meio que por terminadas as suas obrigações paternais.

Mas, como tudo na vida tem seus dois lados, esta independência também é interessante! As crianças aqui aprendem bem mais cedo a ajudar na rotina da casa. Sophia com seus quatro aninhos, já arruma seus brinquedos antes de jantar. Ajuda a por a mesa e leva sempre os seus pratos, talheres e copos pra cozinha e já os põe direto na máquina de lavar louça. Ela já sabe há algum tempo usar garfo e faca (engraçado que todo mundo no Brasil se espantava que ela aos 3 anos já usasse garfo! Até a Helena, de um aninho, já está começando a aprender a espetar...), se veste sozinha, vai à piscina com a turminha da escolinha e até se penteia e seca os cabelos com o secador de cabelos sozinha, sob a supervisão dos professores, claro. E muito disso ela aprendeu na escolinha, eu confesso.

Outro ponto muito bom aqui na Alemanha é a alimentação. As crianças têm realmente bons hábitos alimentares. Elas comem muita fruta, muitos legumes, peixe, etc. Claro que depende dos pais incentivar e dar o exemplo, né? Mas até os 3 anos eu diria que a alimentação é excelente. É comum você visitar um alemão e ter uma mesa para as crianças com maçã e pera cortadinha, pepinos, pimentão e cenourinha para que eles mesmos peguem e comam. Sempre brinco dizendo que pepino é a pipoca da Sophia, pois nas raras vezes que ela come assistindo televisão é isso que ela come. 
E adora! Tenho muito orgulho que minha filha coma tão bem e de tudo. Ela não toma refrigerante, não come salgadinhos, ou maionese, ou outros molhos, e larga qualquer coisa por um bom pedaço de melão. E o mérito é da cultura alemã, pois não passa pela cabeça de um alemão oferecer coca-cola para uma criança de 2 anos. Também não há muita tolerância para as "frescuras" individuais. Eu acho que no Brasil é muito, muito comum que as pessoas não comam de tudo. Do tipo: Fulano não gosta de peixe, Cicrano não gosta de azeitona, Beltrano não gosta de cebola (eu, por exemplo!), mas isso por aqui é bem mais raro. Claro que todo mundo tem suas preferências, mas o "não gostar" não significa não comer em hipótese alguma. E isso se aprende cedo por aqui. Pois, como diz o ditado, é de pequenino que se torce o pepino.

E é assim que vou vivendo. Equilibrando o que acho de melhor de cada cultura e integrando à nossa forma de educar. Por sorte meu marido e eu concordamos na maioria das coisas ligadas à educação das nossas filhas e o que não concordamos eu acabo convencendo.

Em tempo, Sophia furou as orelhas com 3 anos e a Helena com menos de um ano ;-)



Hoje as Mamães Internacionais estão fazendo uma blogagem coletiva sobre as diferenças culturais na hora de educar os filhos. Quem quiser ler mais, clica aqui!

terça-feira, 29 de maio de 2012

Começar de novo.



Estou de volta! Depois de várias semanas de férias, muita vivência, muitas alegrias, muito macarrão e com muitos quilos a mais...
O que explica o meu mau humor.
O que explica minha falta de vontade de escrever.

Mas, enfim, depois de passear tanto, depois de mandar a reeducação alimentar pro espaço, receber tantos elogios, depois de comprar roupas novas e me sentir tão bem dentro delas não posso desistir. Hoje não é segunda-feira, mas é dia de recomeçar.

E o lema de hoje vai ser:
olha, olha, olha, olha a água mineral,
água mineral, água mineral, do candeal
você vai ficar legal!

E esta semana ainda eu volto pra contar mais da viagem.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Melô da Helena 2

E após o sucesso do Melô da Helena 1 (se você ainda não conhece é só clicar :-)), vamos agora ao Melô da Helena2:
É tosse, é espirro, é o nariz entupido,
É o nariz escorrendo, é o corpo doído.
É a falta de fome, é a irritação,
É um querer estar no colo, é uma judiação.

É a mãe se cansando ou se desesperando,
É voltar a mamar, a noite inteira acordar,
É só supositório, no canguru carregar,

É cafuné na cabeça, é um acariciar.


É catarro, é meleca, é um jogar a boneca
É a conjuntivite, é a bronquiolite.
É a febre aumentando, paracetamol não ajudando,
Pro pediatra voando:
É otite, é otite.


É a mamãe confortando a nenezinha doente,
É não ir mais pra escola, onde só tem serpente.

São os males da creche quer se queira ou não,
É promessa de angústia no meu coração.

Tosse, espirro, nariz entupido,
Catarro, meleca, dor de ouvido.

São os males da creche quer se queira ou não,
É promessa de angústia no meu coração.


terça-feira, 1 de maio de 2012

É mole?

Ontem Helena estava doentinha (de novo). E tive que levá-la ao pediatra (de novo). Como tem acontecido desde que ela entrou para a escolinha, ela teve febre (de novo) e preferi deixá-la em casa pelo resto da semana (idem, idem).
Com isso não tive tempo para arrumar a casa, como costumo fazer quando as meninas estão na escolinha.

Fui buscar a Sophia, voltamos pra casa, ela entra na sala, dá uma boa reparada e me diz:

-Mamãe, que bagunça! Porque você não arrumou a casa hoje? Não gosto de ver meus brinquedos desarrumados.